China admite ampliar compra de soja dos EUA e liga alerta no Brasil

Países são parceiros naturais no comércio agrícola, diz embaixador em Washington, lamentando ‘crescente protecionismo’ americano.

A China divulgou no fim de semana um discurso de seu embaixador em Washington, Xie Feng, em que ele defende a retomada da cooperação sino-americana no comércio de soja.

“Por anos, metade da soja americana exportada era vendida para a China”, disse Xie, durante evento de sexta (22) no Conselho de Exportação de Soja dos Estados Unidos.

“Na soja, podemos ver que a China e os EUA têm a ganhar com a cooperação e a perder com o confronto. No primeiro semestre, as exportações de soja dos EUA para a China caíram 51% em relação ao ano anterior.”

Xie culpou a escalada tarifária do presidente Donald Trump, sem citá-lo pelo nome, pelo resultado no semestre. “O crescente protecionismo lançou uma sombra sobre nossa cooperação agrícola”, disse.

“Como maiores importadores e exportadores mundiais de produtos agrícolas, respectivamente, China e EUA são parceiros naturais. A agricultura foi uma das primeiras áreas de cooperação e também uma das mais frutíferas. Vamos buscar resultados vantajosos para ambos, para que nossa cooperação agrícola continue florescendo”, conclamou, ao final.

Gestos do governo Lula provocaram EUA e geraram tarifaço de Trump,diz Skaf

Paulo Skaf  Foto Alex Silva

Paulo Skaf foi eleito, nesta segunda-feira, 4, para presidir a Fiesp a partir de janeiro de 2026; empresário concedeu entrevista exclusiva à Coluna do Estadão.

Gestos do governo Lula provocaram os Estados Unidos e geraram tarifaço de Trump, diz Skaf.

O empresário Paulo Skaf foi eleito nesta segunda-feira, 4, para presidir a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a partir de janeiro de 2026. Disputou em chapa única e venceu com 99 votos sim e um branco. Em entrevista exclusiva, ele atribui ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atitudes que fizeram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, taxar os produtos do Brasil em 50%. A nova alíquota começa a valer na quarta-feira, dia 6.

“Na minha opinião, o governo brasileiro, neste momento, fez certas opções que não foram convenientes ao Brasil”, afirma à Coluna do Estadão.

Skaf lista, entre outros pontos, a reunião dos Brics no fim de junho e o discurso de desdolarização de Lula. “Todos esses gestos, todas essas ações, elas provocam o nosso principal cliente de manufaturas, que são os Estados Unidos. Eu não entendo que seja uma boa política; nós provocamos, nós não estarmos bem com os Estados Unidos por várias razões”, afirma.

Para ele, a saída para o tarifaço é um reforço na diplomacia brasileira. Ele mostra ceticismo com o plano de socorro prometido pelo governo Lula às empresas afetadas pelo tarifaço. “O melhor socorro é o governo brasileiro ter uma atitude, ter gestos que realmente possam fazer com que os Estados Unidos recuem dessa decisão.

Setor de café ainda espera evitar tarifa

setor de café não entrou na extensa lista de exceções que a Casa Branca estabeleceu às tarifas de 50% aplicadas ao Brasil. Porém, o segmento ainda espera ser incluído em uma relação “abrangente” que vem sendo elaborada pelo governo norte-americano e escapar da taxa. A Casa Branca estuda estabelecer uma lista de “exceções” as suas tarifas composta por produtos naturais que os Estados Unidos não produzem. A expectativa das empresas brasileiras e americanas é de que a isenção atinja itens de diversos países.

“O Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil) manifesta que seguirá em tratativas com seus pares dos EUA, como a National Coffee Association, com intuito de integrar a lista de exceções elaborada pelo governo americano”, escreveu a entidade em nota após a ordem executiva de Trump.

A relação ainda é trabalhada internamente pelo governo americano. A possibilidade ganhou notabilidade após o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, falar publicamente sobre a iniciativa, com menções ao café e ao cacau, por exemplo.

O café seria o principal beneficiado por esta medida, visto que quase a totalidade do produto consumido nos EUA é importado. O Brasil é o principal fornecedor do item ao país, sendo responsável por cerca de 35% (mais de um terço) dos grãos que os Estados Unidos compram do exterior.

Num país onde 76% das pessoas consomem café, as taxas impactariam empresas e consumidores. Símbolo dos EUA, o “Starbucks”, por exemplo, tem o Brasil como fornecedor de cerca de 22% de seus grãos, terá aumento de custos e deve repassá-los nos preços do produto vendido ao americano.

Tarifaço: Setores de suco e frutas afirmam não ter como redirecionar vendas

Exportadores ponderam que não há demanda suficiente no mercado para absorver produção brasileira

Empresas brasileiras buscam mercados alternativos para driblar tarifa dos EUA, mas enfrentam obstáculos

Volume da produção e tempo para conquistar novos parceiros limitam alternativas de curto prazo

Diante do aumento de tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exportadores brasileiros avaliam a possibilidade de escoar seus produtos para mercados alternativos. No entanto, a estratégia enfrenta desafios logísticos, regulatórios e estruturais.

Um dos principais entraves é a necessidade de adaptar os produtos às exigências técnicas e sanitárias de cada país, além do tempo necessário para construir novas parcerias comerciais baseadas em confiança e negociações sólidas — um processo que costuma levar meses ou até anos. Por isso, especialistas consideram essa uma alternativa viável apenas no médio ou longo prazo.

No caso específico de frutas e suco de laranja, o desafio é ainda maior: o volume produzido pelo Brasil é tão expressivo que não há mercados alternativos com capacidade para absorver essa produção.

“Não dá para, com os volumes que o Brasil produz, sair com uma sacolinha oferecendo para outros mercados”, afirma Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

A tentativa de redirecionar essa produção ao mercado interno também é limitada. Para Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), a absorção doméstica de tamanha oferta geraria um colapso no setor. “É uma quantidade tão grande que vai colapsar o mercado”, alerta.

Ariosto da Riva Neto, CEO da marca Xandô e da processadora Sucorrico, destaca que, se houver uma queda de 50% nas compras dos EUA, cerca de 40 milhões de caixas de laranja deixariam de ser produzidas. “A indústria teria como opção processar e tentar vender para outro mercado ou manter em estoque, mas hoje não há mercado para isso. A alternativa mais provável será não processar esse volume”, explica.

Importância estratégica do mercado norte-americano

O mercado dos Estados Unidos é um dos principais destinos do suco brasileiro. Cerca de 90% da produção da Sucorrico é exportada, na forma de suco concentrado congelado ou coprodutos da laranja, como óleo da casca e limoneno — usados em fragrâncias, aromatizantes e produtos químicos. Apenas 10% ficam no mercado interno, engarrafados sob a marca Xandô.

A preocupação com as tarifas não está restrita ao Brasil. Parceiros comerciais norte-americanos também demonstram apreensão, já que grande parte da cadeia produtiva do suco de laranja nos EUA depende de insumos brasileiros.

Para se ter uma ideia da dimensão do impacto, a cada 10 copos de suco de laranja consumidos no mundo, 8 têm origem no Brasil. Nos Estados Unidos, 70% da laranja consumida vem do Brasil, que destina cerca de 40% de sua produção ao mercado norte-americano.

Pecuaristas dos EUA manifestam apoio ao tarifaço de Trump

Entidade do agro norte-americano pede a suspensão das importaçõesa de carne bovina brasileira

A Associação Nacional de Pecuaristas dos Estados Unidos (NCBA) manifestou apoio à decisão do presidente Trump de impor ao Brasil com uma tarifa de 50%.

De acordo com a entidade, uma tarifa de 50% é um bom começo, mas eles querem suspender as importações de carne bovina do Brasil para conduzir uma auditoria completa.

A NCBA acusa produtores brasileiros de terem uma falta de responsabilidade em relação à saúde do gado e à segurança alimentar.

Os pecuaristas americanos citam especificamente os casos da Encefalopatia Espongiforme Bovina, conhecida como doença da vaca louca. A falha do Brasil em reportar casos atípicos da doença e seu histórico de febre aftosa são uma grande preocupação para os produtores de gado dos EUA.

Indústria do pescado solicita crédito emergencial para mitigar efeitos do tarifaço

Abipesca também pede que governo federal intensifique negociações para reabrir mercado europeu às exportações brasileiras

Um pedido para que o presidente Lula crie uma linha emergencial de crédito voltada às indústrias exportadoras de pescado foi protocolado na ultima segunda-feira (21) pela Associação Brasileira das Indústrias de Pescado (Abipesca).

A proposta prevê que o governo aporte R$ 900 milhões, fornecendo ao setor seis meses de carência e prazo de 24 meses para o pagamento.

Para a entidade, essas ações têm como objetivo mitigar os impactos imediatos da tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros do setor.

“O mercado norte-americano representa cerca de 70% do destino do pescado exportado pelo Brasil. Com a nova taxação, estima-se que cerca de R$ 300 milhões em produtos estejam parados entre pátios portuários, embarcações e unidades industriais”, destaca a nota.

Segundo a Abipesca, o setor enfrenta uma grave crise de capital de giro, já que não há como redirecionar essa produção ao mercado interno — que já se encontra abastecido e não absorve os cortes específicos voltados à exportação.

“Caso não haja uma resposta rápida, 35 indústrias e aproximadamente 20 mil trabalhadores, incluindo pescadores artesanais, podem ser impactados com cortes e paralisações”, reforça.

Reabertura da Europa ao pescado brasileiro

No documento protocolado, a Abipesca também solicita que o governo federal intensifique as negociações para reabertura do mercado europeu, fechado às exportações brasileiras de pescado desde 2017.

MST invade sede do Incra em SP e pressiona Lula por reforma agrária

Cerca de 300 integrantes do Movimento dos  Sem Terra (MST) invadiram, na manhã desta quarta-feira (23), a sede da Superintendência Regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) na capital paulista.

De acordo com o grupo, a ação, feita sob o mote “Lula, cadê a reforma agrária?”, faz parte da Semana Camponesa, mobilização nacional feita por conta do Dia do Trabalhador e Trabalhadora Rural, celebrado em 25 de julho.

De acordo com o MST São Paulo, a pauta deste ano discute pontos como a liberação de créditos do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA/Conab) e a ampliação dos limites de compra por cooperativas e famílias assentadas.

Além disso, reivindica acesso universal ao Pronaf A e A/C, com facilitação nos trâmites e renegociação de dívidas, além de assistência técnica permanente para viabilizar a produção de alimentos saudáveis e estruturantes agroindustriais.

A construção e reforma de casas em assentamentos, a inclusão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o assentamento imediato de mais de cinco mil famílias acampadas no estado de São Paulo também estão na pauta do Movimento.

Já a superintendência do Incra em São Paulo informou que aguarda o recebimento da pauta do MST para verificar o atendimento às reivindicações. A Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, por sua vez, não se pronunciou.

Plantio Direto: O Método que Revolucionou a Agricultura Brasileira e Preserva o Solo

Desde sua popularização na década de 1980, o plantio direto tem sido um dos maiores avanços da agricultura brasileira, transformando áreas degradadas em campos produtivos e ajudando a preservar o solo e o meio ambiente.

O sistema consiste em cultivar sem revolver o solo, mantendo os resíduos das culturas anteriores na superfície. Isso evita a erosão, conserva a umidade e aumenta a matéria orgânica do solo, além de reduzir o uso de máquinas e o consumo de combustível.

Segundo dados da Embrapa, atualmente cerca de 75% da área agrícola brasileira utiliza o plantio direto, com resultados que incluem aumento de produtividade, redução de custos e menor impacto ambiental.

Produtores como Carlos Eduardo, do Rio Grande do Sul, afirmam que o método foi fundamental para recuperar áreas que antes eram improdutivas. “Hoje colhemos com qualidade e ainda preservamos o solo para as próximas gerações”, afirma.

A técnica também contribui para a captura de carbono, sendo uma importante aliada nas estratégias nacionais de combate às mudanças climáticas.

O Agro que Sustenta e Preserva: Iniciativas que Unem Produção e Natureza

Em diversas regiões do Brasil, produtores estão provando que é possível produzir com rentabilidade e, ao mesmo tempo, preservar o meio ambiente. No interior do Pará, agricultores familiares recuperam áreas degradadas com sistemas agroflorestais de cacau, banana e castanha, combinando produtividade e biodiversidade.
No Rio Grande do Sul, uma cervejaria artesanal firmou parceria com agricultores para reaproveitar resíduos de malte como fertilizante orgânico. A prática reduziu em 40% os custos com adubação e ainda evita o descarte incorreto de resíduos.

“É uma parceria onde todos ganham — o agricultor, a empresa e o meio ambiente”, destaca o engenheiro ambiental Lucas Santos.

Já em São Paulo, uma fazenda leiteira se tornou referência em energia limpa ao instalar painéis solares. A produção energética abastece toda a propriedade e ainda gera excedente para 10 residências vizinhas.

Mulheres do Campo: Liderança, Resiliência e Protagonismo

Em um setor historicamente dominado por homens, as mulheres vêm ocupando cada vez mais espaço de liderança e decisão no agro brasileiro. Um exemplo inspirador é o de Carla Zorzi, engenheira agrônoma que está à frente de uma cooperativa com mais de 500 associados, atuando na exportação de grãos e no fortalecimento da agricultura familiar.
No sertão do Rio Grande do Norte, um grupo de mulheres apicultoras transformou a produção de mel em independência financeira. Com o apoio do Sebrae, elas criaram uma cooperativa e hoje exportam mel orgânico da Caatinga para a Europa.

“Hoje temos nossa renda, nossa autonomia e orgulho do que fazemos”, afirma a presidente da associação, Maria das Dores.

Já em Minas Gerais, a produtora Renata Veloso criou uma marca de cafés especiais cultivados exclusivamente por mulheres. A marca já ganhou prêmios internacionais e está presente em cafeterias de luxo em São Paulo e no exterior.

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