Tarifaço: Setores de suco e frutas afirmam não ter como redirecionar vendas

Exportadores ponderam que não há demanda suficiente no mercado para absorver produção brasileira

Empresas brasileiras buscam mercados alternativos para driblar tarifa dos EUA, mas enfrentam obstáculos

Volume da produção e tempo para conquistar novos parceiros limitam alternativas de curto prazo

Diante do aumento de tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, exportadores brasileiros avaliam a possibilidade de escoar seus produtos para mercados alternativos. No entanto, a estratégia enfrenta desafios logísticos, regulatórios e estruturais.

Um dos principais entraves é a necessidade de adaptar os produtos às exigências técnicas e sanitárias de cada país, além do tempo necessário para construir novas parcerias comerciais baseadas em confiança e negociações sólidas — um processo que costuma levar meses ou até anos. Por isso, especialistas consideram essa uma alternativa viável apenas no médio ou longo prazo.

No caso específico de frutas e suco de laranja, o desafio é ainda maior: o volume produzido pelo Brasil é tão expressivo que não há mercados alternativos com capacidade para absorver essa produção.

“Não dá para, com os volumes que o Brasil produz, sair com uma sacolinha oferecendo para outros mercados”, afirma Antônio Pitangui de Salvo, presidente da Faemg (Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais).

A tentativa de redirecionar essa produção ao mercado interno também é limitada. Para Guilherme Coelho, presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados), a absorção doméstica de tamanha oferta geraria um colapso no setor. “É uma quantidade tão grande que vai colapsar o mercado”, alerta.

Ariosto da Riva Neto, CEO da marca Xandô e da processadora Sucorrico, destaca que, se houver uma queda de 50% nas compras dos EUA, cerca de 40 milhões de caixas de laranja deixariam de ser produzidas. “A indústria teria como opção processar e tentar vender para outro mercado ou manter em estoque, mas hoje não há mercado para isso. A alternativa mais provável será não processar esse volume”, explica.

Importância estratégica do mercado norte-americano

O mercado dos Estados Unidos é um dos principais destinos do suco brasileiro. Cerca de 90% da produção da Sucorrico é exportada, na forma de suco concentrado congelado ou coprodutos da laranja, como óleo da casca e limoneno — usados em fragrâncias, aromatizantes e produtos químicos. Apenas 10% ficam no mercado interno, engarrafados sob a marca Xandô.

A preocupação com as tarifas não está restrita ao Brasil. Parceiros comerciais norte-americanos também demonstram apreensão, já que grande parte da cadeia produtiva do suco de laranja nos EUA depende de insumos brasileiros.

Para se ter uma ideia da dimensão do impacto, a cada 10 copos de suco de laranja consumidos no mundo, 8 têm origem no Brasil. Nos Estados Unidos, 70% da laranja consumida vem do Brasil, que destina cerca de 40% de sua produção ao mercado norte-americano.

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